Entrevista concedida ao Jornalista Eduardo Prestes - julho/2021 - Jornal Folha Universal.
Tema: Como se antecipar para conquistar oportunidades de emprego?
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Quais as chances de quem conta apenas com a sorte para a ascensão profissional? De modo geral, quem tem mais chances, o sortudo ou quem se prepara?
Em um mercado tão competitivo quanto o atual, com cada vez mais tecnologia, quem conta apenas com a sorte na verdade conta com nada, pois, raramente conseguirá chegar ao Recrutador e conquistar o emprego desejado.
É essencial buscar desenvolvimento comportamental e técnico e, de maneira alguma, se acomodar aonde e como está, acreditando que está seguro. Esse mundo é cada vez mais fluido, muitas profissões deixarão de existir em pouco tempo e outras novas, que ainda nem se imagina, surgirão.
Dessa maneira, tem mais chance quem se prepara e, principalmente, sabe o que quer e usa estratégias para alcançar o que deseja, afinal, o tempo é curto e a concorrência é grande!
Qual a importância de auto avaliar pontos fortes e fracos para crescer?
Pontos a desenvolver sempre existirão, nunca alcançaremos a perfeição em determinada área, por mais referência que possamos ser em determinado tema.
Sendo assim, investir e, principalmente, conhecer os pontos fortes por meio de ferramentas de autodesenvolvimento e autoconhecimento, contribuirá, inclusive, para alavancar o que você chama de “pontos fracos”, ou seja, o que não temos de tão bom pode ser desenvolvido por meio daquilo que temos de melhor.
Porém, para chegar a se conhecer profundamente, a pessoa tem que investir em si mesma, não se deixando levar apenas por aquilo que os outros dizem dela, por julgamentos ou preconceitos, mas, aceitando quem é e compreendendo a extensão do seu comportamento, formas de se relacionar, preferências, atributos, competências e perfil; somente assim evoluímos e temos humildade para aprender algo novo todo dia.
Quem pensa que já sabe tudo está fadado ao fracasso e a ficar para trás.
Por que é necessário traçar planos e objetivos profissionais claros?
Quando se sabe para onde se deseja ir, além da agilidade para conquistar sonhos e metas, os recursos financeiros, emocionais e cognitivos serão direcionados de maneira estratégica e eficiente, economizando tempo e encurtando o caminho.
Quem não sabe para onde vai, aceita qualquer coisa, inclusive em termos financeiros, pois, não vê e não reconhece o valor que tem, não sabe negociar no momento de um pedido de aumento salarial, por exemplo, numa mudança de empresa, cidade ou até mesmo na transição de carreira. Desse modo, será muito perigoso ser levado pelo vento, pois, qualquer coisa servirá.
Os meus clientes que têm mais sucesso são os que treinam a disciplina e conseguem, por meio das técnicas que trabalhamos, entender seus medos, limites e pontos fortes. Assim, fica mais fácil, inclusive, dizer “não” às propostas tentadoras, mas, desalinhadas daquilo que verdadeiramente se busca e dos seus valores.
Qual a importância do feedback de colegas de trabalho e gestores?
Feedback tem como objetivo levar o colaborador a atingir o melhor do seu potencial, levando também a organização a conquistar seus resultados e objetivos. Se pensarmos que somente evoluímos quando conhecemos a nós mesmos e temos a oportunidade de reconhecer nosso potencial, receber feedback de quem convive conosco é essencial para a mudança positiva.
Claro que devemos filtrar e entender o que realmente faz sentido, pois, a tal “crítica construtiva” nem sempre funciona como deveria. Por outro lado, é igualmente importante ter humildade para aceitar outros pontos de vista, planejar e implantar a mudança.
O gestor, o líder, quem dá o feedback, deve fazê-lo não apenas quando é necessária uma mudança de comportamento, mas também quando as coisas estão bem; se o colaborador não tem nenhum retorno sobre seu trabalho, como vai saber que está indo no caminho certo? Pode até ser que ele mude justamente aquilo que é positivo, afinal, se ele não tem retorno, como vai conseguir manter ou mudar algo? Ao contrário, se eu como colaborador não pedir feedback, como saberei em quais pontos preciso me desenvolver?
Jamais devemos esperar por feedbacks e, quando eles não são oferecidos, temos que ir atrás por nós mesmos, investindo no nosso desenvolvimento, sem esperar isso do líder e se acomodar.
Qual a importância do networking?
Indicações, recomendações, referências, fazem parte de uma relação bem construída, em que as pessoas vão se lembrando umas das outras quando necessitam de um serviço, produto ou negócio.
Quando falamos sobre vagas de emprego, aquele que cultiva bons relacionamentos, obviamente será lembrado antes dos demais quando há necessidade de fazer indicação para uma vaga.
Atualmente, networking chega a ser até mais importante do que simplesmente se cadastrar às vagas ou ter perfis completos em redes sociais profissionais, pois, em um mar de candidatos, aquele que é lembrado se destacará.
A maior parte das pessoas conhece a palavra networking, mas, poucas a praticam de verdade ou sabem como fazê-la.
Empreendedores têm dificuldade em formar uma rede de contatos por não saber como fazer isso ou por ficarem constrangidos com a situação, se sentindo expostos. Aqueles menos tímidos acabam se arriscando, mas, às vezes, sem um método claro.
Profissionais CLT começaram a entender a importância do networking há pouco tempo e muitos nem mesmo sabendo disso o praticam diariamente.
Uma dica prática é: que tal elaborar uma lista das pessoas com as quais tem uma boa relação, aquelas com as quais quer estabelecer networking e aquelas que desconhece, colocando ao lado do nome qual ajuda você poderia fornecer? Você poderá falar com algumas delas, retomar contatos e mostrar como pode apoiá-las.
Depois disso, comece a pensar como essas mesmas pessoas podem lhe ajudar e encontre uma forma gentil, à sua maneira, de ofertar o seu trabalho e como podem te apoiar no momento da necessidade de alcançar a vaga desejada.
Como as redes sociais podem ajudar nesse processo, tanto para o trabalho atual quanto para a busca de novas vagas?
A força das redes sociais atualmente é imensa, muitos desconhecem o poder delas e, até mesmo por medo de serem julgados, acabam fazendo pouco uso. Infelizmente, há também aqueles que não entenderam o seu alcance e não compreenderam que tudo o que é falado fica exposto, pode ser salvo e usado contra ou a favor no momento da escolha de um candidato, por exemplo.
Opiniões muito polêmicas devem ser deixadas de lado e o objetivo deve ser se concentrar para encontrar o emprego ideal, ser visto, fazer contatos, ser ajudado, oferecer ajuda e aparecer positivamente.
Somente dessa maneira será possível ir além do envio do CV e se destacar me meio ao mar de candidatos.
Além disso, usar estratégicas criativas nas redes sociais para chamar a atenção das empresas dá resultado!
Por que é importante ter uma formação?
Vou sempre ser uma defensora do estudo, do conhecimento. Tenho até uma frase que inventei que quem me conhece sabe que eu repito: “Aprender nunca é demais e não ocupa espaço”. Porém, no dia a dia, quando se trata de carreira, temos sim que pensar em otimizar tempo e até mesmo gastos.
Pode ser que o curso superior não seja mais tão importante em um curto espaço de tempo, porém, ainda o é em termos de aprendizado técnico atualizado.
Os conhecimentos acadêmicos têm o seu valor e, além disso, a possibilidade de estar com outras pessoas, fazer networking, ter acesso a materiais de estudo e conhecer professores que tiveram experiências práticas muito ricas em seus segmentos, não pode ser desperdiçado.
Durante um tempo só se falava em fazer MBA e o quanto isso era valorizado. De repente, fomos para o lado oposto, rechaçando o estudo técnico. Penso que podemos achar um meio termo.
Só ter formação é o suficiente para ascender profissionalmente? Quais outros requisitos são necessários para ascender?
Formação técnica é essencial, mas, já vi muita gente perder emprego por causa do comportamento, então, independentemente do segmento em que atuamos, tudo o que estiver relacionado ao autoconhecimento, principalmente nesse momento de grandes mudanças em que vivemos, deverá ser foco de estudos e poderá ajudar muito.
Até mesmo por que, algumas competências comportamentais são úteis em qualquer área e profissão e podem ser usadas para que cresçamos como indivíduo e na carreira.
Essas soft skills, como são chamadas, são aquelas competências emocionais, mentais e até mesmo sociais que podemos aprimorar e que nos apoiam na melhoria dos relacionamentos e da compreensão de nós mesmos.
Desenvolvê-las, portanto, vai trazer a possibilidade de você expandir seus saberes e possibilidades reais de ascensão.
Há um perfil básico que as empresas costumam buscar? Esse perfil, se é que existe, pode ser construído pelo trabalhador? Como?
Algumas habilidades que estão aparecendo bastante nos processos seletivos para diferentes cargos:
- Comunicação e sociabilidade;
- Empatia e escuta ativa;
- Capacidade de trabalhar e produzir bem em equipe (espírito colaborativo);
- Inovação, criatividade e iniciativa – capacidade para assumir riscos;
- Visão estratégica e sistêmica;
- Adaptabilidade e resiliência;
- Inteligência emocional;
- Gestão de conflitos;
- Energia + tomada de decisões sob pressão – saber lidar com estresse;
- Senso de urgência;
- Ser um orientador estratégico de pessoas;
- Gestão do Tempo;
- Raciocínio Estratégico;
- Negociação.
Ao contrário do que as pessoas pensam, é totalmente possível desenvolver habilidades comportamentais por meio de terapia e programas de desenvolvimento com foco em carreira ou liderança, por exemplo. Assim como aprendemos algo tecnicamente, podemos aprender e desenvolver soft skills para encararmos os desafios do mercado corporativo.
E mesmo sem investir financeiramente, é possível conhecer mais dessas competências e se desenvolver em cada uma delas, por meio da prática, no dia a dia, reconhecendo situações em que se pode treiná-las, como, por exemplo, trabalho em equipe e relacionamento interpessoal.
Como se antecipar às oportunidades (de que modo isso pode ser feito)?
Além do autoconhecimento, aprendizado diário e humildade para escutar diferentes pontos de vista, é importante não estagnar e conhecer assuntos relacionados ao seu mercado e área de atuação, mas também assuntos gerais e futurologia, ou seja, quais são as previsões para o setor em que atuo?
Para não parecer tão abstrato, uma técnica simples é olhar o que os grandes players de mercado estão buscando em relação às competências técnicas e comportamentais de seus colaboradores e usar isso para se desenvolver nesses quesitos, pois, a maior parte das empresas menores se espelha nessas grandes corporações e as tecnologias de ponta costumam ser apresentadas primeiro nas empresas e marcas mais conhecidas.
Sendo assim, se preparar em relação aos quesitos buscados por essas empresas é estar preparado para quando as oportunidades surgirem e, mais do que isso, para criá-las! O trabalhador poderá, dessa maneira, entender o que as empresas precisam e oferecer soluções, por meio do seu trabalho, para resolver os problemas, se destacando. É preciso ser proativo e não ter medo de se expor e muito menos de errar.
Cursos, palestras, trabalho voluntário, projetos pessoais, contatos, contam para isso? De que forma?
Claro, as competências comportamentais (e até mesmo técnicas) que podemos desenvolver são riquíssimas. Eu mesma fiz estágio em diversos hospitais na faculdade e em um deles fui convidada a ficar devido à qualidade do meu trabalho. Aprendi muito com o voluntariado e aprendo até hoje, pois, nunca parei de praticar.
Para quem não tem experiência ainda é essencial, inclusive, mencionar esses dados no currículo, contando o que foi feito na faculdade, por exemplo, como projetos acadêmicos e sociais, o que a pessoa faz na igreja ou comunidade do bairro, por exemplo.
Todo contato com pessoas conta, pois, nesse campo fértil dos relacionamentos é onde nos desenvolvermos e temos a possibilidade de desenvolver também aos outros.
Não devemos pensar que somente se ganha experiência ganhando também dinheiro, o desenvolvimento está inserido até mesmo no trabalho da dona de casa que é mãe em tempo integral e não trabalha fora de casa.
Vale mesmo se preparar, mesmo quando a oportunidade parece distante dentro da empresa?
Sempre. Principalmente mostrando um bom trabalho, não tendo preguiça de aprender e jamais usando as frases: “não sou pago para isso”, “isso não está na minha descrição de cargo” e outras pérolas que ouvimos, pois, quanto mais aprendemos, mais aparecemos e quanto mais disponíveis nos mostramos, mais somos vistos. Todo desenvolvimento que puder ser buscado dentro e fora da empresa vai contar no momento de se candidatar para uma vaga interna.
Não se deve esperar apenas investimento da empresa em treinamento, mas, procurar por si mesmo crescer e conhecer cada dia mais da sua área de atuação, mercado e do mundo como um todo. Ou seja, não estacionar achando que o já sabe é suficiente é a chave! E se a empresa atual não valoriza o profissional, não tem motivo algum para permanecer nela, é totalmente possível planejar a mudança e fazê-la com segurança.
Outra dica prática é fazer relacionamento com as áreas parceiras e “pessoas chave” responsáveis por cada área, desenhando alianças estratégicas no local de trabalho.
Qual o seu conselho final para quem quer se preparar para as oportunidades que forem surgindo?
Acredito que as habilidades de gestão do tempo e de planejamento serão cada vez mais valorizadas. Então, para qualquer área ou cargo pretendido, elas são importantes e devem ser desenvolvidas.
Você já viu pessoas criadas nas condições mais adversas, terem tremendo sucesso no futuro? Acredito piamente que se perguntássemos o que ela seria em alguns anos, mesmo no cenário mais adverso, ela responderia algo que ninguém acreditaria que ela seria capaz de alcançar e isso só é possível por meio do planejamento, persistência e do bom uso do tempo.
É sabido que pessoas de sucesso, CEOs de renome, organizam a agenda semanal muitas vezes já no domingo à noite e conseguem focar e produzir de forma muito mais inteligente e com uso adequado do tempo. Com certeza essas mesmas pessoas sabem onde querem estar, até mesmo, 20 anos à frente.
Outra sugestão é ter sempre um planejamento financeiro, além do famoso “plano B”, pois, em um mundo com cada vez mais incertezas, todos devem estar preparados para os momentos de busca por emprego, por exemplo ou uma despesa extra, como uma cirurgia ou até mesmo uma viagem.
Muitos não fazem ideia de quanto poupar hoje para conseguir o que desejam ter na velhice, o que estudar para alcançar a posição pretendida, o que deixar de lado para usar melhor o tempo disponível, em que focar a atenção e etc.
Conquistar e realizar um pouco a cada dia deve ser a meta, sem pressão, mas com alegria, afinal o sábio provérbio zen nos diz: “A melhor época para plantar uma árvore foi há 20 anos; o segundo melhor tempo é agora.”
Dessa maneira, conquistamos sonhos e mudamos a vida, alcançando o que queremos iniciando hoje uma pequena ação, plantado e colhendo.
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Luciane Vecchio
Psicóloga Clínica, Especialista em Desenvolvimento Humano, RH, Carreira, Liderança, Executive & Life Coaching, Colunista de Carreira & Comportamento
CRP: 06/74914
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