Preciso mesmo saber como estarei daqui a 10 anos?
Uma pergunta comum na internet, quando se fala sobre escolha de carreira é: como eu gostaria de estar daqui a 10 anos? Minha dúvida é: na velocidade em que as coisas acontecem hoje, com toda essa revolução tecnológica, em que cada ano parece uma eternidade – e agora tivemos esse coronavírus. Enfim, gostaria de saber se esta pergunta ainda faz algum sentido ou se deveríamos encurtar a data: ‘como você gostaria de ver daqui a três anos’, por exemplo. Pergunto isso, pois sou pai de dois filhos saindo da puberdade, e gostaria de orientá-los da melhor forma.
Resposta: Sua pergunta é muito interessante e acredite, sempre que eu usava (atuei com Seleção muitos anos em minha trajetória profissional) questionamentos como esse nunca esperava uma resposta certeira, como se o candidato tivesse bola de cristal e pudesse prever o futuro; minha ideia sempre foi entender a curto, médio e longo prazo, o que a pessoa esperava e, principalmente, planejava, de sua vida.
Ouvi as respostas mais interessantes e algumas bem bizarras e, muito mais do que me preocupar com as palavras apenas, observava postura corporal, mover dos olhos, forma de falar, entonação. Ouvi coisas do tipo: “em 5 anos quero que tudo se lasque e eu possa ter o meu próprio café”.
Comprometimento é muito importante
Claro que a pessoa tem o direito de ser e fazer o que quiser, mas, qual o grau de comprometimento que essa pessoa teria com a empresa? Ela poderia apenas estar nervosa? Verdade, poderia, mas... o restante das respostas mostrou que não era alguém que perseveraria frente aos desafios e projetos que estavam à frente, naquele determinado cliente, uma grande indústria farmacêutica, que eu atendi na ocasião.
As pessoas mentem também nessa pergunta? Acredite, mentem! Mas, é fácil saber se a resposta foi produzida ou é sincera, com mais questionamentos que a levem a mostrar como chegou àquele raciocínio.
Quando perguntava sobre os tais, 2, 5 e 10 anos (não me prendia apenas aos 10), queria entender da capacidade que essa pessoa tinha de (se) planejar, se organizar financeira e mentalmente, qual seu grau de ambição, de desejo de evolução e de transformação como pessoa e profissional. Esse sujeito era mais ou menos visionário, mais ou menos apegado ao momento atual? Conseguia ter visão sistêmica e estratégica, pensava enquanto equipe ou mais solitariamente? Conseguia ser criativo, pensava em inovar, construir o que ainda não existia? (isso, claro, também levando em consideração o cargo, perfil da vaga e desafios da posição).
Planejamento devia ser ensinado na escola
Acredito que a habilidade de planejamento deveria ser ensinada na escola e, mesmo com tanta inovação tecnológica (e eu concordo com você, não imaginaríamos o que a pandemia nos traria, por exemplo) podemos saber como queremos estar, pois, isso independe do externo – um parêntese aqui: você já viu pessoas criadas nas condições mais adversas, terem tremendo sucesso no futuro? Acredito piamente que se perguntássemos àquela pessoa o que ela seria em alguns anos, mesmo no cenário mais adverso, ela responderia algo que ninguém acreditaria que ela seria capaz de alcançar.
Aliás, planejamento pode e deve ser ajustado mensalmente, semanalmente. É sabido que pessoas de sucesso, CEOs de renome, organizam a agenda semanal, muitas vezes já no domingo à noite e conseguem focar e produzir de forma muito mais inteligente e com uso adequado do tempo. Com certeza essas mesmas pessoas sabem onde querem estar, até mesmo, 20 anos à frente.
Sendo assim, penso que a preocupação deve ser menos com o número: 10 anos e mais com o que começar a fazer hoje para atingir o que se quer no futuro. E vou ainda mais além: a maior parte das pessoas não sabe nem aonde querem estar no próximo mês, vivem a vida ao estilo da música do Zeca Pagodinho e são pegas de surpresa pelos reveses que encontram pelo caminho.
Muitos não fazem ideia de quanto poupar hoje para conseguir o que desejariam ter na velhice, o que estudar para alcançar a posição pretendida, o que deixar de lado para usar melhor o tempo disponível e em que focar a atenção e etc.
Mas, há resposta certa para essa pergunta?
Não há resposta certa ou errada para essa questão, mas sim a subjetividade daquele candidato e o que ele pensa para seu futuro. Como esse colaborador (estudante, empresário) alcançará as metas? Quais caminhos percorrerá? Fugirá do óbvio?
Citei uma resposta mais bizarra acima, mas, acredite que eu também vi pessoas que em 2 anos disseram que estariam falando inglês fluente (e conseguiram), em 5 estariam numa posição gerencial e em 10 planejavam desenvolver competências para serem Diretores. Pois, mais de um entrevistado conquistou o que queria, muito menos por ter bola de cristal e muito mais por se planejar e fazer um pouco, dia a dia, para alcançar algo. Isso também fala de resiliência, perseverança e autoconfiança.
Podemos não ter noção nenhuma dos nossos próximos 5 minutos, mas, temos o dever conosco mesmos de fazermos da nossa vida a melhor vida possível, conquistando o mais e o menos simples, caminhando de forma a nos tornarmos pessoas melhores do que ontem, deixando para as crianças um mundo mais gostoso para se viver.
Para isso, conquistar e realizar um pouco a cada dia deve ser a meta, sem pressão, mas com alegria, afinal o sábio provérbio zen nos diz: “A melhor época para plantar uma árvore foi há 20 anos; o segundo melhor tempo é agora.”
Dessa maneira, conquistamos sonhos e mudamos a vida, alcançando o que queremos iniciando hoje uma pequena ação, plantado e colhendo. Após essa reflexão, responder a esse questionamento será mera formalidade, mais fácil do que descascar uma banana.
Sucesso!
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Luciane Vecchio
Psicóloga Clínica, Master Coach, Especialista em RH, Carreira, Liderança, Executive & Life Coaching, Colunista de Carreira & Comportamento
CRP: 06/74914