Mundo jovem: o que é a “trend do corretivo”?

Mundo jovem: o que é a “trend do corretivo”?

O que é a “trend do corretivo”?

Em diferentes escolas espalhadas pelas cidades do Brasil, alunos motivados por vídeos publicados em redes sociais estão praticando o que está sendo chamada de a “trend do corretivo” - o termo trend designa as novas tendências da internet - e que está levando pais, profissionais de saúde e professores a se preocuparem não apenas com a integridade psicológica dos alunos, mas também com a física.

Nos vídeos, crianças e adolescentes “pincelam” o líquido dos corretivos – originariamente fabricados para “apagar” o que foi escrito à caneta – na superfície das carteiras, aguardam secar e depois raspam o produto, o que gera o “pó”.

Precisamos lembrar que esse tipo de prática não é nova, afinal, nos anos 80, os fabricantes dos corretivos adicionaram um aroma intenso aos produtos devido ao aumento de problemas cardíacos em crianças que praticavam a “brincadeira” de cheirar esse pó, justamente tentando coibir o seu uso de forma inadequada.

Vale recordar que os adultos conseguem, na maior parte dos casos, ter algum tipo de filtro em relação ao que assistem, porém, crianças e adolescentes são muito mais vulneráveis no que diz respeito aos efeitos do que é propagado nas redes sociais e, desejando chamar a atenção, pertencer, criar moda e terem reconhecimento, podem ser muito mais influenciáveis e suscetíveis a desafios como esse, já que a ideia do vídeo é gerar competição entre os estudantes, pois, o que produz a emoção também inclui não ser flagrado pelos professores.

Uma paciente que atendo, que não quis se identificar, estudante do ensino médio, comentou que em sua sala apenas ela e algumas amigas ficaram de fora da “brincadeira” e por isso foram chamadas de “vacilonas” por não quererem entrar na trend. Ela comenta que alguns colegas começaram a mostrar para os amigos alguns vídeos em que se “produz” esse pó, imitando o “refino” da cocaína, sua venda e o seu uso; depois de assistirem, muitos começaram a copiar.

“Eles ficam imitando os traficantes, repassando, vendendo e usando drogas e acham isso divertido”.

Seu irmão, que estuda em uma classe com crianças menores, comentou que em sua sala também já há algumas crianças sendo influenciadas pela trend.

Qual a responsabilidade da escola, dos pais e autoridades?

Alguns alunos, nas redes sociais, se manifestaram dizendo que essa prática foi incentivada por adolescentes que assistem a uma série de TV denominada “Euphoria”, que tem como foco mostrar a vida de jovens que usam livremente drogas e compartilham os seus dramas pessoais. A série tem a classificação etária para maiores de 18 anos, mas, como podemos ver, tem influenciado um público bem mais novo.

Já foram relatados casos em que a escola precisou suspender seus alunos e, em outras, foi necessária intervenção das autoridades policiais para coibir a prática.

A instituição é responsável pelos seus alunos e deve zelar pela integridade, saúde física e psicológica, enquanto eles estiverem no prédio da escola.

Os pais, bastantes ocupados com suas atividades laborais, tem dialogado pouco com os seus filhos e esses muitas vezes acabam passando mais tempo na instituição, com os amigos e professores, do que em suas próprias casas, o que os afasta e faz com que não estejam cientes das angústias e do comportamento dos seus filhos.

Os professores acabam sendo sobrecarregados, mas, nesse caso, também são os primeiros a terem contato quando os alunos estão envolvidos nesse tipo de situação.

Os docentes podem estimular conversas saudáveis sobre o uso de drogas, os seus males e até mesmo abordar diretamente sobre esse tipo de atitude, com o apoio da direção da escola, visando esclarecer de forma direta a questão. Levar um profissional médico, como o Otorrinolaringologista e o Psicólogo às salas de aula, mostrar vídeos sobre o tema e usar de influência positiva sobre os jovens pode ser bastante útil.

Proibir o uso desse tipo de material em sala ou substituí-lo por outros também é indicado, porém, proibição sem explicação e conscientização não é interessante.

Cabe também à escola incentivar práticas mais saudáveis e proporcionar atividades de lazer que sejam estimulantes e integrativas.

De igual forma, as autoridades policiais podem se envolver na questão levando às escolas e aos alunos ações de conscientização sobre o uso das drogas.

Questão de saúde

A brincadeira se torna séria quando, além de glamourizar a vida do traficante e incentivar uma prática criminosa, passa a afetar a saúde física, pois, os jovens também estão inalando o pó com canudos ou colocando o nariz em contato direto com o produto, como se realmente estivessem cheirando cocaína. Além do corretivo, borracha e giz também estão sendo usados para o mesmo fim.

As substâncias das quais o produto é feito podem causar irritação, sangramento, intoxicações, queimação e até mesmo lesões pulmonares e na mucosa nasal, gerando sinusites, renites e alergias, dentre outros problemas.

Nessa situação, muitas crianças podem ser rapidamente levadas ao uso de drogas ilícitas. Como se não fosse o suficiente, elas ainda serão presas fáceis para os traficantes.

Como os pais devem agir?

Conversar abertamente com os seus filhos, não apenas em momentos como esse, mas, diariamente, é a chave para formar pessoas conscientes, que não se deixam iludir por essas brincadeiras e mais ainda, que compartilham com seus pais como é o seu dia a dia, sendo aconselhados e podendo dividir o que sentem.

Criar filhos é uma arte e nesse caso, mostrar a eles como faz mal participar desse tipo de movimento é o ideal. Somente formamos jovens saudáveis emocionalmente quando conseguimos exercer autoridade em amor, mostrando que nos preocupamos genuinamente com eles. Isso faz com que firmem a sua identidade, sem se envolverem em modinhas ou situações como essas.

Acompanhar o que os filhos assistem, compartilham e no que se envolvem é parte da função de ser pai e mãe. A questão é que hoje em dia os pais querem primeiro - e muitas vezes somente - ser amigos dos filhos, o que por si só não é exatamente um problema, mas quando isso influencia na proximidade e intimidade com os jovens e deixa escapar situações como essas, pode ser um perigo, inclusive para a integridade física das crianças.

Muitos pais foram reprimidos na infância, então agora acreditam que o outro lado da moeda - deixar que os jovens decidam tudo por eles mesmos - é o mais correto. Porém, temos que lembrar que eles estão em formação cognitiva, psicológica e de conhecimento do mundo e precisam sentir que têm segurança dentro de casa, condução e apoio.

A questão é que estamos vendo amigos induzindo e influenciando os jovens muito mais do que os próprios pais que, em muitos casos, mal conhecem os seus próprios filhos. Há falta de diálogo honesto e comunicação entre as famílias, com escuta ativa, atenção e amor. Vale lembrar que os jovens não são influenciados apenas pelos mais próximos, pois, por meio das redes sociais, é possível estabelecer contato com pessoas de diferentes partes do mundo. Atualmente, a internet, principalmente para os jovens, é a forma mais comum de se socializarem.

Os pais devem se questionar por quais motivos os seus filhos estão usando esse tipo de moda para chamarem a atenção. É fato que essa é conhecida como uma idade em que se decide burlar regras, ir contra a maré e ousar, mas, por quais motivos esses adolescentes precisam colocar a sua saúde em risco? Será que não formas mais saudáveis de deixar a sua marca e se fazer reconhecido? Quais são os gatilhos que têm despertado esse comportamento?

Jovens são mais suscetíveis ao desejo de fazerem parte de um grupo já que estão em plena fase de desenvolvimento da personalidade, entendendo quem são, seus desejos e angústias.

Mas, quais motivos os jovens têm se apoiado nesse tipo de brincadeira para se “sentirem pessoas”, serem incluídos e se verem como importantes, fazendo parte e se destacando nesse grupo social que é a escola? A necessidade de pertencimento é inerente ao ser humano, mas, por quais razões nossos filhos estão seguindo esse tipo de modismo e não o do esporte, por exemplo?

É importante que o jovem entenda que pode se abrir, inclusive com um profissional da Psicologia, nos casos em que os pais perceberem a necessidade desse apoio. Buscar um Psicólogo não deve ser visto como um fracasso na criação dos filhos, mas como uma excelente oportunidade de gerarem cidadãos mais bem preparados para enfrentarem a vida e os seus constantes desafios.

Vale lembrar que uma dessas “modas”, como por exemplo o caso do jogo da Baleia Azul, prática em que os jovens deveriam cumprir uma série de provas e, caso não o fizessem, eram chantageados por meio de ameaças de agressão, exposição de mensagens e fotos, foi extremamente nociva para a saúde emocional de muitos adolescentes. Muitos pais se quer desconfiaram do que estava acontecendo dentro de suas casas e, por fim, a prova final, que deveria ser a prática do suicídio, levou à morte mais de cem jovens.

No limite, oferecer conteúdos mais saudáveis, praticas mais inclusivas e que afetem positivamente o desenvolvimento psicológico é uma saída, já que ela pode estimular que eles busquem outros tipos de hábitos.

Sabemos que a criança e o adolescente estão explorando o mundo, tentando descobrir mais sobre o seu funcionamento, cada um à sua maneira. Por natureza, os adolescentes são seres curiosos e, na maior parte das vezes, não conseguem calcular os riscos envolvidos em suas ações.

Sendo assim, os pais devem discutir com seus filhos a moda do “ser popular, ser influenciador e chamar a atenção” a qualquer custo e o preço a ser pago por essa escolha.

Por quais motivos esses jovens estão se colocando em perigo e como a negligência das famílias, da sociedade e das autoridades governamentais em relação à educação está contribuindo para que esse tipo de modismo se propague?

_____________________

Luciane Vecchio
Psicóloga Clínica | Dra Carreira e Propósito – Instagram @dravecchio | Consultora | Mentora | Colunista | Especialista em Desenvolvimento Humano, RH, Empreendedorismo, Carreira e Liderança | Revisão de CV e Perfil Campeão LinkedIn
CRP: 06/74914



- - -

Para te apoiar no aumento de performance em qualquer área da vida, conte comigo!

É proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo sem dar o devido crédito.


Luciane Vecchio

Autor: Luciane Vecchio

Psicóloga Clínica | Dra. Carreira e Propósito - Instagram @dravecchio | Especialista em Carreira, RH, Liderança e Empreendedorismo | Colunista de Carreira & Comportamento | CRP: 06/74914

[email protected]